sábado, 4 de fevereiro de 2012

Brasil terá relator em simpósio sobre abusos. Conheça-o




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Cidade do Vaticano (RV) - O promotor de justiça do Vaticano, o Arcebispo Charles Scicluna,
afirmou nesta quinta-feira que os abusos sexuais contra menores cometidos por eclesiásticos “não são apenas um pecado, mas um crime”, e que a Igreja tem o dever de colaborar com o Estado para evitá-los.

Entrevistado pela Rádio Vaticano, Dom Scicluna explicou os objetivos do simpósio sobre os abusos que será aberto no próximo dia 6 na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
O simpósio terá no primeiro dia o testemunho de uma vítima dos abusos - informou o promotor, que insistiu na necessidade da formação de agentes pastorais para evitar esses casos.
“Rumo à cura e à renovação”: é o título do simpósio que reunirá delegados provenientes de 110 Conferências Episcopais e de 30 ordens religiosas.

Pe. Edenio Valle é sacerdote há 50 anos e psicólogo há 45. Trabalha na PUC de São Paulo, atuando no programa de censo da religião. Tem grupo de pesquisa credenciado no Conselho Nacional de Pesquisas sobre Psicoterapia e Religião.

Por solicitação da CNBB, Pe. Edenio realiza pesquisas sobre os padres no Brasil, orienta teses de mestrado e doutorado. Assessor de dezenas de congregações masculinas e femininas, e de centenas de dioceses no Brasil, ele tem em sua bagagem 12 anos de experiência como diretor do ITA, Instituto Terapêutico “Acolher”, em São Paulo, onde, com um grupo de 15 psicólogos atende o clero e a vida religiosa com problemas psicológicos sérios. O Instituto já atendeu mais de mil casos.

Convidado como relator do Simpósio, Pe. Edenio, entrevistado em exclusiva pela RV, adianta o conteúdo de sua palestra:

Deram-me um tema sobre o qual vou falar: ‘Religião, sociedade e cultura, em diálogo’. Este tema está inserido num conjunto de 10 palestras. Não vou entrar em aspectos propriamente jurídicos, pastorais ou mesmo psicológicos. Vou fazer uma abordagem de natureza psico-sociológica. Penso que no tema que me foi confiado, o importante é a palavra que vem no fim: ‘em diálogo’. Tenho a impressão que os organizadores desta conferência tinham em mente colocar a Igreja em diálogo com a realidade, a realidade da sociedade hoje, plural e diversificada. De um lado, a realidade da cultura, com valores, comportamentos e padrões que já não são aqueles que a Igreja católica propõe. Este fenômeno, aqui na América Latina, também se torna cada vez mais forte e mais abrangente. É o caso específico do Brasil”.

Pe. Edenio Valle contextualizará seu pronunciamento à realidade brasileira, incluindo o fenômeno da migração religiosa:

Como se pede que fale de religião, eu toco no campo religioso brasileiro. Hoje há uma massiva passagem de milhões e milhões de brasileiros de um catolicismo popular, sem assistência pastoral adequada devido à falta de padres e de recursos, uma população cada vez mais urbana, para religiões de origem carismática norte-americana que usam dia e noite a televisão e a rádio. Através desta forte presença midiática, atraem milhões de pessoas, sempre voltados à subjetividade: curas divinas, expulsão de demônios, milagres feitos diante das multidões. Pode-se ver isso em qualquer TV brasileira, dia e noite. Neste quadro, eu vou colocar a questão do abuso sexual por parte dos padres. Tenho conhecimento do que se passa em nível mundial, mas trarei alguns dados recolhidos aqui”.

O professor insere no conteúdo de sua palestra também a bagagem clínica acumulada na experiência do ITA:

Meus dados mais importantes são de natureza clínica: discutir com colegas, psicoterapeutas que fazem este tipo de atendimento. Meu conhecimento também é pastoral: trabalho com padres e sei como esta problemática aparece em padres abusadores. A questão do simpósio se volta mais especificamente para a chamada “pedofilia” e trata do abuso sexual de menores. Sobre este tema especificamente, não tenho nenhum estudo, mas tenho a prática clínica; portanto, vou partir daí para tentar mostrar que a Igreja católica nesta conjuntura não pode se voltar só para o seu problema interno e para a assistência ao clero. Tem que ver o problema sócio-cultural, o ambiente de exploração ‘via mídia’ e não só, e a liberalização de costumes, onde a sexualidade passa a ser muito banalizada. Aí dentro dá-se uma confusão da identidade de gênero e da identidade sexual das pessoas, e neste contexto eu situaria o problema do atendimento dos padres. Tenho interesse na questão do atendimento das vítimas, sobretudo crianças, o que no Brasil é ainda muito atrasado”.

Para ouvir a entrevista, clique acima.
(CM)

http://www.oecumene.radiovaticana.org/bra/articolo.asp?c=560177

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