segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mulheres do Zimbábue são acusadas de atacar homens para retirar sêmen


Justiça começa a julgar integrantes de suposta gangue que atacaria homens sexualmente para usar esperma em rituais


BBC Brasil 28/11/2011 10:38
A polícia do Zimbábue acredita que uma quadrilha nacional de mulheres esteja atacando homens sexualmente para retirar seu sêmen para o uso em rituais que supostamente trariam prosperidade.
Nesta segunda-feira, três mulheres supostamente ligadas à gangue começam a ser julgadas na capital do Zimbábue, Harare. Esse foi o primeiro caso de prisões de acusadas, mais de um ano após os primeiros relatos sobre o caso, que chocaram o país.

Uma suposta vítima, que pediu anonimato, relatou sua experiência à TV do país em julho. Ele disse ter sido atacado após aceitar uma carona de um grupo de três mulheres em Harare.
"Uma das mulheres jogou água na minha cara e elas me injetaram algo que me deu um forte desejo sexual", contou. "Elas pararam o carro e me forçaram a manter relações sexuais com cada uma delas diversas vezes, usando preservativos", disse.
"Quando elas terminaram, me deixaram totalmente nu no meio do mato. Algumas pessoas me ajudaram a chamar a polícia, que me levou ao hospital para tratar dos efeitos dessa droga que elas haviam dado para mim, porque o forte desejo sexual continuava", afirmou.
Prostitutas ocupadas
As mulheres presas foram indiciadas por 17 acusações de ataque indecente agravado - já que a lei do Zimbábue (assim como a do Brasil) não considera estupro uma mulher forçar um homem a manter relações sexuais.
Elas foram detidas no início do mês na cidade de Gweru, a 275 quilômetros a sudoeste de Harare, após policiais terem encontrado 31 preservativos usados no carro em que elas viajavam. As mulheres negam as acusações, dizendo que são prostitutas e que não haviam jogado fora os preservativos porque estavam muito ocupadas.
Após serem soltas sob fiança, elas foram confrontadas e ameaçadas por uma multidão. Elas dizem que têm sido forçadas a permanecer dentro de casa desde então, para evitar a atenção indesejada.
O porta-voz da polícia Andrew Phiri disse à BBC acreditar que as mulheres pertencem a uma gangue que atua em todo o país. "Nós recebemos relatos de diferentes cidades e províncias do país, de que isso está acontecendo nas estradas", disse. "Ainda temos de descobrir por que isso está acontecendo. Ouvimos especulações de que está ligado a rituais", afirmou.
Acredita-se que o sêmen seja usado em rituais para trazer sucesso nos negócios e há até mesmo rumores de que o sêmen tem sido vendido para outros países.
Mas o professor universitário Claude Mararikei, especialista em sociologia e cultura, afirmou à BBC que o uso do sêmen "está na área de rituais e magia, que é quase uma sociedade secreta". "Até mesmo pesquisadores não querem entrar nessa área porque você pode não sair vivo depois de publicar qualquer coisa que descubra", disse.
Casos não denunciados
Os primeiros relatos de ataques foram alvo de curiosidade e descrença, mas homens que falaram à BBC disseram que agora estão tratando a questão com seriedade. "Agora só ando de ônibus quando ele está cheio e não pego caronas em carros particulares, principalmente se houver mulheres dentro", afirmou um homem que não quis se identificar. "Precisamos tomar cuidado, porque há mulheres atacando homens. Isso está mesmo acontecendo", disse.
Em Harare, uma mulher identificada como Sibongile afirma que o caso está manchando a imagem de seu gênero. "É muito ruim que haja mulheres tão mesquinhas que querem ganhar dinheiro fácil dessa maneira", disse ela à BBC no centro de Harare.
A polícia não diz quantos casos foram denunciados. Nakai Nengomasha, um psicólogo que está trabalhando com três homens que dizem terem sido vítimas de ataques de mulheres, acredita que há muitos casos que não foram denunciados.
"Acho que há muitos casos que não foram relatados, porque as vítimas acham que não se sentirão suficientemente homens se falarem sobre esses assuntos", disse. "Alguns deles precisam lidar com a questão de ver o ataque como uma perda da masculinidade e de se sentirem sujos", afirmou.
Isso é algo por que passou o homem que denunciou o caso na TV, que disse ter pensado em suicídio. "Sinto-me violado e desapontado, porque quando contei para minha mulher o que aconteceu, ela me deixou, junto com um de nossos três filhos. Espero que ela volte", disse.

Relação entre sexo e saúde é discutida em palestra

24/11/2011

Sexóloga-educadora Carmen Janssen foi convidada pela comissão de formatura da XXXIV turma de Enfermagem da Unoeste 


  • Foto: Assessoria de Imprensa/Unoeste
    Evento teve a participação de acadêmicos de diversos cursos e população prudentina
  • Foto: Assessoria de Imprensa/Unoeste
    Carmen Janssen entre a aluna Lourdes Cardoso Dias e a coordenadora desta graduação Maria Nilda Camargo de Barros Barreto


“A íntima relação entre a saúde e o sexo”. Este foi o tema de discussão no Teatro César Cava, campus I, na noite desta quarta-feira (23), com a presença da sexóloga-educadora Carmen Janssen. O evento, promovido pela comissão de formatura da XXXIV turma de Enfermagem da Unoeste, teve a participação de acadêmicos de diversos cursos e população prudentina.

De acordo com a palestrante, o principal objetivo do tema abordado foi esclarecer de maneira geral as diferenças entre a sexualidade e o sexo, já que as pessoas costumam confundir bastante. “A sexualidade é muito mais ampla e não se restringe ao sexo. Para termos uma boa qualidade de vida sexual e minimizar problemas decorrentes, é fundamental que tenhamos uma compreensão da totalidade do assunto”. 

Carmen salienta que a presença de estudantes da área da saúde no evento foi essencial, já que o sexo faz parte da saúde e da qualidade de vida do ser humano. “Ele influencia enormemente o nosso bem-estar físico, mental e psicológico. É importante que estes profissionais estejam preparados para lidarem com os pacientes com mais naturalidade. O curso de Enfermagem está de parabéns pela iniciativa, já que entendeu a importância do assunto, resolveu quebrar tabus e disseminar a discussão à comunidade”. 

Para a presidente da comissão de formatura da graduação, Lourdes Cardoso Dias, a ideia de trazer a sexóloga para Presidente Prudente surgiu justamente da necessidade de trazer essa discussão para dentro do ambiente acadêmico. “Trabalho há 25 anos como técnica em enfermagem e percebo nos profissionais esta dificuldade em falar e até mesmo alertar sobre certos problemas relacionados ao sexo e à sexualidade. Estamos em uma área onde o conhecimento precisa ser aprimorado dia a dia, então, por mais informação disponível, a discussão com uma sexóloga renomada como a Carmen Janssen trouxe um enriquecimento enorme para os participantes”. 

Maria Nilda Camargo de Barros Barreto, coordenadora do curso de Enfermagem, revelou que este é um assunto essencial para os alunos e que deve ser abordado dentro da universidade. “Tratar o sexo e a saúde de maneira clara e natural trouxe aos presentes uma visão objetiva não somente da sexualidade, mas também sobre a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e vida saudável”. 

Notícia disponibilizada pela Assessoria de Imprensa da Unoeste

“Tem mulher que não sabe o que é clitóris”


Qui, 24 de Novembro de 2011 04:18 delas.ig

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delasssAs mais jovens experimentam menos por medo do julgamento do namoradoUm bate-papo franco com a especialista Débora Pádua, autora do novo livro “Prazer em Conhecer”

“Você acha que sabe tudo sobre sexo?” É com essa pergunta que o novo livro “Prazer em Conhecer” (Editora Alaúde) provoca o leitor logo de cara. Em 144 páginas, a especialista em uroginecologia e professora de sexualidade Débora Pádua fala sobre temas polêmicos e dúvidas que ainda perturbam homens e mulheres. Na entrevista que segue, a expert responde questões que persistem por décadas.

Delas: Por que ainda é tão difícil para a mulher assumir que se masturba? Para elas, falar sobre o assunto pode ser constrangedor até mesmo entre amigas. Os homens, por outro lado, costumam fazer piadas sobre o tema.
Débora Pádua: A mulher fica imaginando o que o homem vai pensar dela, principalmente as mais novas. Esse comportamento é muito influenciado pela maneira como ela foi criada e pela formação sobre sexo. Eu tive uma paciente de 76 anos que me disse: “Você tirou um peso muito grande das minhas costas. Eu fiz isso por toda a vida e me sentia muito culpada”. No homem tudo é externo na sexualidade, já na mulher é tudo para dentro.

Delas: Você diz que o clitóris é pouco conhecido por homens e mulheres. Como reverter isso?
Débora Pádua: Por incrível que pareça, tem mulher que não sabe o que é clitóris, a localização dele e muito menos a dimensão, qual o tamanho real. Há quem ache que é só aquela pontinha que a gente consegue ver, mas ele é muito maior. É preciso tocá-lo. Eu aconselho a olhar a vagina no espelhinho, como qualquer outra parte do corpo. Alguém passa dois meses sem olhar para a própria boca?

Delas: O tempo passa, mas as dúvidas persistem: o ponto G e a ejaculação feminina ainda são questões que geram dúvidas. O que definitivamente devemos pensar sobre esses dois assuntos?
Débora Pádua: Inúmeras pesquisas defendem as duas posições, algumas juram que o ponto G não existe, outras afirmam que ele existe sim. Contudo, o que posso afirmar vem dos relatos que eu ouço das minhas alunas. O ponto G provavelmente existe. Ele é simplesmente um lugar dentro do canal vaginal um pouco mais sensível, mais enervado, e por isso provoca mais prazer quando tocado. Mas isso não significa que todas as mulheres vão reagir da mesma maneira ou que são defeituosas por não tê-lo ou percebê-lo. Já sobre a ejaculação feminina, de cada 20 mulheres presentes nas minhas aulas, pelo menos duas ou três delas já tiveram, daqueles que chegam a molhar a cama. Quando elas falam da ejaculação, o relato é muito diferente de um orgasmo vaginal ou clitoriano, a sensação é que vai sair alguma coisa, uma expulsão. Não é uma sensação de contração. Mas, claro, ainda há muita controvérsia sobre o assunto.

delass_2Pesquisas divergem sobre muitos temas, mas Débora Pádua apresenta respostas diretas com base em aulas e consultasDelas: O sexo oral ainda suscita muitas dúvidas na cabeça de ambos os sexos. Sob a influência dos filmes eróticos, homens usam a língua de maneira rápida e pouco estimulante. Já as mulheres muitas vezes não relaxam e são mecânicas na hora de fazê-lo.
Débora Pádua: Em primeiro lugar, a pessoa tem que estar com vontade. Por exemplo, um homem que se incomoda com pelos pubianos não vai fazer sexo oral com vontade em uma mulher que não se depila. Já a mulher, quando ela vai fazer nele com a expectativa de ter uma performance de filme pornô, tende a dar errado – aquela coisa de colocar o pênis imenso todo na boca. Tem mulher que não gosta de olhar para o parceiro na hora que está fazendo o sexo oral, mas é bom olhar porque você percebe as reações, se ele está gostando ou não. A brincadeirinha de colocar mel ou leite condensado estimula o casal, o doce vai escorrendo e os movimentos são inesperados, explora movimentos diferentes.

Delas: E possível ter orgasmo apenas com o sexo anal ou a mulher tem também que estimular o clitóris quando está sendo penetrada no ânus?
Débora Pádua: É possível ter orgasmo anal sim, segundo relatos. Mas na literatura médica ainda não há nada sobre isso. A maioria dos especialistas, inclusive, nega que exista. Contudo, uma menor parcela de especialistas afirma que é possível sim ter um orgasmo anal – alguns falam até em orgasmo mamilar, ou seja, só com estímulos nos mamilos. Mas não tenha dúvidas que com o estímulo clitoriano fica muito mais fácil.

Delas: E com relação aos homens, quais preocupações estão no topo da lista deles?
Débora Pádua: Eles querem saber se existe uma forma de perceber que a mulher está tendo um orgasmo. Eu digo que até existe, mas na hora do sexo são tantos detalhes que você não vai conseguir dar atenção. Porque a mulher no orgasmo fica mais ofegante e tem contrações da musculatura perineal. Mas se você quer saber mesmo se ela está tendo prazer, preste atenção nela já nos primeiros minutos da relação. A mulher consegue ter intensidade durante todo o tempo, não é como o homem que tem um pico máximo com a ejaculação. Eles sempre ficam esperado que ela solte aquele “ahaaa” no final.

Erros que os homens não podem cometer na hora do sexo


Redação SRZD | Homem | 23/11/2011 12h25


Você não sabe por que aquela gata não se empolgou muito na hora do sexo com você, mesmo depois da sua melhor performance sexual? Existem alguns erros na hora do sexo que muitos homens não conhecem. As educadoras sexuais Tristan Taormino e Lou Paget, craques no assunto, deram algumas dicas do que prejudica os resultados do desempenho sexual de um homem na cama. As informações são do site "Hypescience".
Em primeiro lugar, jamais pense que você sabe exatamente o que a mulher quer. Não é porque uma tática deu certo com uma, que vai ter as mesmas consequências com outra mulher.
"Você desenvolve um repertório à medida que amadurece sexualmente, mas nunca deve assumir que o que funcionou para a última pessoa irá funcionar para esta pessoa", disse Tristan. "Há mulheres que podem fazer sexo casual e outras que se afeiçoam facilmente, e tem um montão delas no meio termo", completou.
O vibrador às vezes é necessário. Existem mulheres que não atingem o orgasmo com facilidade. Tristan explica que "enquanto você está fazendo uma ou duas coisas, o vibrador pode estar fazendo outra". Ele não é um substituto do homem, mas pode ser usado como complemento na relação sexual.
Foto: Reprodução de Internet
Outro erro é pensar que a sensação do sexo é igual para homens e mulheres. A sensibilidade dos órgãos masculinos e femininos é diferente, então cada um sente prazer de uma forma. Por isso é tão importante a conversa entre o casal, pois só assim eles chegam ao meio termo com sucesso.
De acordo com Lou, "quando um homem tem relações com um uma mulher e seu pênis a penetra, essa sensação é tão boa para a maioria dos homens que eles não podem imaginar que esta sensação não possa ser a mesma para ela. Isso não poderia esta mais longe da verdade".
Para saber como tocar o clitóris de uma mulher, o melhor é realmente perguntar pra ela. Se você não quiser ser tão direto, pode tocar da maneira que achar melhor e depois apenas pedir para que ela diga se está bom. É absolutamente normal uma mulher precisar de estímulo no clitóris para gozar.
Um erro recorrente dos homens é pensar que as mulheres só estão excitadas se estão bastante lubrificadas. Isso é puro mito. A lubrificação vaginal depende de muitos fatores, e o stress e uso de medicamentos podem diminuí-la.
Achar que você é o sabe-tudo não está com nada. Cada relacionamento é uma nova oportunidade para conhecer maneiras diferentes de manifestar a sexualidade.

Tabu no século XXI

Eliane Rose Maio
Autora de importante pesquisa nacional que originou o livro O nome da coisa, a psicóloga Eliane Rose Maio defende melhor preparo dos educadores no exercício da educação sexual

Por: Luciana alvarez Fotos: arquivo pessoal

arquivo pessoal

Para o mundo, o Brasil passa a imagem de um verdadeiro reinado da liberdade sexual. Dentro dos muros de nossas escolas, no entanto, a questão sexual ainda é tabu, assunto do qual a maioria dos docentes procura se esquivar, afirma a psicóloga Eliane Rose Maio, doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Como resultado dessa interdição, que vem desde a primeira infância, as pessoas acabam criando outras formas de expressão.
Após quatro anos de pesquisa Eliane compilou mais de 1.300 nomes usados pela comunidade escolar para designar pênis, vulva, masturbação e sexo. O que era para ser sua tese de doutorado acabou virando também um livro - O nome da coisa (Editora Unicorpore). Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá, Eliane diz que educadores devem cumprir seu papel social de ensinar ciência. Isso significa, entre outras coisas, mencionar corretamente às crianças desde pequenas os nomes de seus órgãos sexuais. E ainda recomenda que com os alunos mais velhos, os docentes deveriam se abrir ao diálogo em vez de repetir o restrito discurso sobre DSTs e gravidez precoce.

Como surgiu a ideia para sua pesquisa?
Eliane Rose Maio - Sou psicóloga há 27 anos e, desde que me formei, trabalho com a educação sexual no espaço da escola. Quando eu estava na metade da minha tese de doutorado - a temática inicial era outra e não me agradava tanto - meu orientador me perguntou o que eu tinha feito nas férias. Respondi que havia digitado uma dinâmica que eu aplicava, que é a dos palavrões (reunia grupo de professores e pais e pedia que escrevessem os nomes que conheciam para sexo, masturbação e para os órgãos sexuais). Ele perguntou quantos nomes tinha encontrado e, como já eram muitos, disse que aquilo dava uma tese de doutorado. Então, enquanto ele foi atender um telefonema, montei rapidinho uma nova estrutura para a minha tese. Meu orientador falou que eu era meio maluca, que não iria encontrar fundamentação teórica, que nunca ninguém tinha pesquisado isso no Brasil. Pois era exatamente o que eu queria, uma ideia inédita. A partir de então comecei a aplicar a dinâmica mais sistematicamente. Eu também analisava como as pessoas reagiam, como elas lidavam com as palavras que escreveram quando saíam da minha boca.
Mas o foco do trabalho não era uma lista de palavrões?
Eliane -
 Não, queria trabalhar a questão da repressão, por qual razão não se falam as palavras pênis e vulva. Nas escolas de educação infantil as professoras pulam os órgãos sexuais. Fico bastante triste com isso, porque a escola tem o papel social de ensinar a ciência. Então fui coletando os nomes - palavrões e eufemismos - com quase 5 mil pessoas em todo o Brasil e fiz categorias de análise. Dos entrevistados, 80% eram professoras e professores, e 20% pais e mães. Para pênis recolhi 408 palavras, quase todas ligadas à força, valor, porque o homem pode. Para vulva (494 nomes) é sempre mais suave, pouquíssimos são fortes. Isso é uma questão de gênero, porque homem é considerado mais forte; para a mulher é mais suave porque ela tem que esconder, não pode mostrar. Para masturbação, dos 177 só 20 são para mulheres. O que significa que nós não podemos, já os homens sim. Para nós mulheres o que se diz é "tira a mão daí".
Já esperava que seriam tantos nomes?
Eliane -
 Não, não esse universo. Achava que sairiam muitos, uns 200 para cada um, nunca que chegaria a quase 500. Mas a pesquisa tinha que terminar, uma hora eu tinha que parar. Claro que não coletei todas as palavras do Brasil, porque elas são eufemismos - e eufemismos são fabricados pelas pessoas, podemos inventar um agora. Não imaginava tantos, mas isso acontece porque o universo é muito fértil para a área da sexualidade. Quando algo relativo à sexualidade é proibido, as pessoas vão criando caminhos alternativos para expressar o que querem. E o adequado seria dizer pênis e vulva, ponto final. Não precisava ir além disso.
Mesmo em sala os professores resistem a dizer pênis e vulva?
Eliane -
 Os professores me dizem que é muito ruim falar pênis e vulva, alegam que os pais não vão gostar. Mas como não vão gostar da ciência? Vejo que dentro do próprio professor já está interditado. Na Psicologia e na Pedagogia não se trabalha a disciplina educação sexual, o tema não está contemplado no currículo. Então as próprias pedagogas são as mais interditadas.
Queria trabalhar a questão da repressão às palavras pênis e vulva. Nas escolas de educação infantil as professoras pulam os órgãos sexuais. Fico bastante triste com isso, porque a escola tem o papel social de ensinar a ciência
Essa variedade de nomes é uma característica fruto da criatividade brasileira, ou no mundo todo é assim? 
Eliane - Em todos os países. Morei na Espanha, fiz três meses de pós-doutorado lá. Quando comentava com alguém sobre o assunto da minha tese, as pessoas também já queriam me dar um monte de nomes que existiam por lá - eu até coletava, mais por curiosidade. Tem muitos similares aos nossos também, inclusive na questão de gênero. Não é coisa exclusiva do povo brasileiro.
Não parece um contrassenso o Brasil, um país conhecido pelo carnaval e por uma suposta liberdade sexual, ter um cenário de repressão sexual?
Eliane - 
Morando fora, a gente percebe que a visão que se tem do Brasil é essa mesma. Eu estava em Atenas no dia do carnaval da cidade; quando alguém descobriu que eu era brasileira, todos ficaram pedindo para eu sambar. Eu não sei sambar. Até explicar que eu era do sul, que no sul não tem isso... De fato, parece que temos uma libertinagem, uma liberdade sexual, mas cientificamente, ao trabalhar nas escolas, constato que não. Por isso que talvez a gente tenha essa pseudo liberdade ou libertinagem, porque tudo relativo à sexualidade é camuflado. Se tivéssemos uma boa educação sexual - nas escolas e também na família - haveria uma adequada expressão sexualizada, e não essa pseudo liberdade que é demonstrada.
arquivo pessoal

É possível mensurar o papel da escola nesse cenário?
Eliane - Eu trabalho especificamente com a importância da escola na educação sexual. Por ser professora universitária há bastante tempo, viajo e dou muitas palestras. Fico triste ao ver o quanto a escola está despreparada. Em uma escola onde fui dar palestra tinha um corpinho humano desenhado na parede. Eles nomearam olhos, nariz, boca, braços, barriga e depois pernas. Pularam os órgãos sexuais. Para mim é claríssimo que a responsabilidade da escola é para passar ciência; a escola não existe para dar comida, não deveria ser para educar com valores que a família não educa. Diria que a responsabilidade da escola é de 50% de tudo o que acontece na vida da criança, principalmente o que fazem as primeiras educadoras. Quase todo mundo lembra da professora da 1ª série - e quem não lembra é porque ela fez tão mal que a gente bloqueia. Então, a importância que ela tem nas nossas vidas é imensa. Se eu puder mensurar, diria que a escola é responsável por 50% da educação sexual. O restante vem da família, da igreja, do clube, da rua.
Para pênis recolhi 408 palavras, quase todas ligadas à força, valor, porque o homem pode. Para vulva (494 nomes) é sempre mais suave, pouquíssimos são fortes. Isso é uma questão de gênero
Houve alguma evolução na educação sexual das escolas brasileiras durante as últimas décadas?
Eliane -
 Termino agora em novembro meu pós-doutorado sobre a historiografia da educação sexual no Brasil nas décadas de 60 a 80; estou pesquisando histórias de vida, a história oral. Entrevisto pessoas que viveram a época da repressão, da ditadura militar, e vai ser interessante contar como eles tentaram colocar a educação sexual nas escolas nas décadas de 60 e 70. Porém, comparando com os dias de hoje, quase nada mudou. Evoluiu um pouco porque atualmente tem muitas pessoas que estão fazendo projetos legais, mas ainda a conta-gotas. Isso me deixa preocupada. Mas vejo com um olhar otimista, de que teve algum avanço sim, apesar de ter sido muito pequeno em comparação ao que deveria.
As escolas conseguem simplesmente ignorar a questão sexual?
Eliane -
 Querendo ou não, a escola fala de sexo a toda hora: são os bilhetinhos, os palavrões, aquele pinto desenhado de errorex para a professora sentar, a revista Playboy escondida na mochila do aluno. Portanto, a escola fala de sexo a toda hora, mas interditado, de forma velada. E os professores não querem trabalhar a educação sexual, querem sim chamar um enfermeiro, médico, ou até psicólogo para dar palestras falando de DST, aids e gravidez precoce. E acontece desde a primeira infância até para os adolescentes. Acham que tal fórmula vai adiantar muita coisa. A educação sexual tem que começar na pré-escola, com as crianças desde os dois aninhos. Se houver um trabalho de prevenção bacana na infância, a descoberta do sexo na adolescência vai ser supertranquila. Temos documentos oficiais do MEC que dizem que temos que trabalhar o tema. Mas quem fará isso se não teve educação sexual familiar, se não teve no currículo do curso universitário? Assim não vai para frente.
arquivo pessoal
Por que é preciso ir além da abordagem sobre gravidez precoce e DST s nas escolas?
Eliane -
 Nós nascemos sexualizados, com todo o aparato. E aprendemos a ser sexualizados. O sexo faz parte da integralidade da vida de cada pessoa. No espaço da escola, um lugar de aprendizado, em que se convive com crianças, com questões de gênero, do masculino e feminino, o dever é trabalhar o lado científico, a questão da saúde, mas também a questão do prazer. Se a gente trabalha o meio ambiente, se faz semana da Matemática, fórum sei lá do quê, por que não trabalhar a sexualidade de forma ampla? Faz parte desse ser íntegro que está dentro da escola. Não é ensinar para transar; é para que o aluno seja um ser autônomo, crítico, emancipado. A escola tem a função de formar um cidadão crítico.
Como se deve abordar um tema que é um tabu social com crianças pequenas?
Eliane -
 Precisamos de projetos. A criança vê uma professora do ensino infantil grávida e pergunta como a criança foi parar lá dentro. Mas em geral não recebe uma resposta adequada, na escola não se fala nada. Não é porque a família não fala que a escola tem que se calar. Se a família dificilmente trata do tema, a escola tem o dever de ampliar, de trabalhar em conjunto, de chamar os pais, trazer uma mãe grávida, por exemplo. Como psicóloga e palestrante já trabalhei em parceria com várias prefeituras, elaborei projetos. Faz parte do conteúdo trabalhar o corpo humano, isso é ciência. Já pensou trabalhar a questão com um olhar livre, como um trabalho científico? Esse é o objetivo da escola.

Quando algo relativo à sexualidade é proibido, as pessoas vão criando caminhos alternativos para expressar o que querem. E o adequado seria dizer pênis e vulva, ponto final. Não precisava ir além disso
arquivo pessoal
Mas se os professores estão mal preparados, como reverter a educação sexual que se tem nas escolas?
Eliane -
 Fazendo formações. Todo começo de ano, depois no início do segundo semestre, temos semanas pedagógicas, reuniões. Se o professor não teve formação no curso superior, pelo menos pode-se fazer um trabalho paliativo, chamar uma equipe especializada, montar um projeto, trazer materiais e estudos para essa escola. Mostrar um olhar diferenciado sobre a sexualidade. Faço muito isso, e, a partir da nossa conversa, os professores ficam bastante empolgados, decidem com os secretários de educação fazer trabalhos mais intensos sobre o tema, como se faz com a questão do meio ambiente. Escola é um espaço de estudos, então a solução para melhorar é estudando.
Se a educação sexual não foi adequada na infância, é possível corrigir quando os alunos já são adolescentes?
Eliane - 
Dá, sim, porque o aspecto mais bonito que o adolescente tem é a vontade de aprender - pena que muitas vezes a escola acaba matando esse desejo. Mas ele clama, ele quer falar de sexo. Mas não vale levar um médico para uma palestra puramente técnica. Na minha escola, por exemplo, na 5ª série as meninas foram levadas para um auditório e apareceu um médico de branco falando que a gente ia menstruar, que ia doer, que ia sentir cólica, engravidar. Eu nunca tinha ouvido falar de menarca e fiquei com uma impressão horrível de ser mulher. A experiência me passou uma imagem extremamente negativa. O certo é escutar esse jovem, ver o que ele quer, bater papo com ele. A direção, a coordenadora pedagógica e os professores têm que participar. Perguntar para eles de que jeito vamos falar de sexualidade. O jovem é onipotente, acha que sabe de tudo, não quer mais ouvir de DST, aids, gravidez. É preciso que ele fique envolvido, que vá atrás. Pode ser um projeto com teatro, música; o jovem é supercriativo.
Para as meninas a repressão é mais forte que para os meninos dentro da escola?
Eliane - 
A diferença é imensa. Toda mulher já ouviu, quando nova, as mães e professoras falarem "fecha as pernas" ou "tira a mão daí". Para os meninos, se veem eles se masturbando, as professoras do ensino infantil dizem "ah, é assim mesmo, isso é coisa de moleque". Mas não é. Meninos e meninas estão conhecendo seus corpos, sem masturbação erótica. É igual enfiar o dedo no nariz. Mas elas acham que a menina não pode colocar a mão na vulva. Por questões de gênero, nós mulheres ainda somos mais interditadas e reprimidas.
Essa repressão das meninas pode ter consequências a longo prazo?
Eliane - 
Claro. Outro dia, uma professora que se dizia "pra frente" me contou que teve um problema com duas meninas da 5ª série. Disse que eram muito avançadinhas, já com seios, e que ficavam querendo agarrar os moleques para beijar na boca. Eu perguntei como a professora reagiu... Olha a expressão dela: "Vocês têm que se dar ao respeito, desse jeito eles não vão querer namorar vocês no futuro". No fundo, o que ela quis passar é que nós mulheres temos que ser recatadas. Poderia ser de outra maneira, dizer que ninguém deve investir no corpo de outra pessoa quando ela não quer. Com certeza ia resolver - e trabalhando o respeito em vez de dizer que as mulheres devem ser puras e imaculadas. Depois vão todas parar na minha clínica sem tesão, com vaginismo, dispareunia.
Como não gostar da ciência? Na Psicologia e na Pedagogia não se trabalha a disciplina educação sexual, o tema não está contemplado no currículo. Então as próprias pedagogas são as mais interditadas

Em São Paulo tivemos uma polêmica ano passado quando o estado distribuiu para alunos do ensino médio um livro com um conto erótico (obscenidades para uma dona de casa, de ignácio de Loyola Brandão, parte do livro os cem melhores contos brasileiros do século). Pais e professores reclamaram. Os docentes disseram que não ficavam à vontade para trabalhar o texto em sala. Jogar uma situação como essa na mão de um professor despreparado ajuda ou atrapalha?
Eliane - 
A polêmica é grande, eu sei. E mais recentemente tivemos também a polêmica do chamado kit gay, uma questão que vai mais ou menos no mesmo sentido. Vou falar especificamente do kit contra a homofobia, porque tenho o material, que é maravilhoso. Trabalho muito com homofobia, também temos inúmeras palavras para gays. Claro que tudo que é colocado goela abaixo não costuma dar certo. Mas a gente tem que começar em algum momento. O que se deve fazer é, depois de entregar o material, abrir discussões. Claro que medidas como essas não vão atingir o país ou estados inteiros, há lugares em que mal se dá conta da alfabetização. Então lança-se o material, muito interessante, e se pelo menos 10% fizerem um estudo a partir dele já está bom. Na mesma linha temos a discussão sobre vender ou não camisinhas dentro das escolas. Pessoalmente acho que deveria ter, mesmo sabendo que eles ainda não estão estudando sexualidade como deveriam. Mas se não fizermos nada, não vamos ter avanços nunca.
Qual a principal lição que se pode tirar dos seus quatro anos de pesquisa que resultaram no doutorado e, agora, no livro?
Eliane - 
Como professora universitária eu insisto que os cursos de Licenciatura e Pedagogia, assim como os de Psicologia, já que muitos psicólogos acabam trabalhando dentro de escolas, deveriam ter uma disciplina sobre gênero e educação sexual no espaço escolar. Aulas que abordassem como discutir gênero, o que é o ser masculino e o feminino. Quem quer trabalhar com docência deveria estudar a questão nos cursos de formação. Os palavrões foram um jeito de falar da repressão e formação docente, de chamar atenção para isso. A ciência precisa ser mostrada.
http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/71/artigo241546-3.asp


Maioria da população acredita que nunca irá se contaminar, diz enfermeira


Coordenadora do Programa DST/AIDS acredita que a informação existe, mas falta mudar os hábitos

27/11/2011 - 11:35
Para evitar a AIDS é preciso usar preservativo em todas as relações sexuais, não compartilhar seringas, agulhas e objetos cortantes. A explicação está na ponta da língua das pessoas e, mesmo assim, o número de infectados pelo HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana – continua aumentando. Em Ribeirão Preto, são 1,7 mil pacientes - só em 2010, foram 209 novos casos da doença.
De acordo com a enfermeira sanitarista coordenadora do programa de DST/AIDS de Ribeirão, Fátima Regina de Lima Neves, o problema não é a falta de conhecimento, mas a mudança efetiva dos hábitos. “Informação, a maioria da população tem. Quando a gente pergunta as formas de transmissão do vírus HIV, as pessoas sabem informar corretamente quais são. Mas há uma distância entre informação e mudança de comportamento”, afirma.
Fátima explica que a maioria da população acredita que nunca poderá se contaminar, como se as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) fossem uma realidade distante. Os dados do Programa DST/AIDS comprovam a afirmação: a cada 20 diagnósticos de HIV no município, nove já estão desenvolvendo a doença. “A maioria fica assustada e não adere ao serviço. Quando nos procuram, por conta de algum sintoma, já estão com o vírus manifestado e com quadro avançado da doença”, conta.
A enfermeira afirma que essa atitude é um reflexo da forma como o sexo é tratado pelas famílias, pela escola e até dentro do serviço público de saúde. “Os profissionais ainda têm dificuldade de lidar com questões da sexualidade. As DSTs ainda são tabus muito grandes para os próprios profissionais da saúde. Às vezes nem abordam este assunto”, diz.
A batalha contra a doença ganhou até uma data. O “Dia Mundial da Luta contra a AIDS” é comemorado nesta quinta-feira (1). Na entrevista da semana, o EP Ribeirão destacou alguns pontos polêmicos em relação à transmissão da doença, ao tratamento e às políticas públicas.
Teste rápido
O chamado “teste rápido” tem se popularizado pelo país, como forma precoce de diagnóstico da AIDS. Na última quarta-feira (23), a Secretaria Municipal da Saúde promoveu a campanha “Fique Sabendo”, realizando estes testes nas Praças Sete de Setembro e XV de Novembro, no centro de Ribeirão. Segundo Fátima, o exame surgiu como resultado das pesquisas científicas e da alta tecnologia disponível no país, e pode ser considerado tão confiável quanto o convencional.
Equipe multidisciplinar
A enfermeira afirma que o Brasil é um dos países que mais se destaca pelo aparato tecnológico para diagnóstico e monitoramento da Aids, além da distribuição gratuita dos medicamentos antirretrovirais.
Apesar disso, ainda falha no acolhimento dos pacientes, priorizando o atendimento centralizado no médico infectologista, ao invés de uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, entre outros. “O governo financia muito mais a participação do médico e, consequentemente, da equipe de enfermagem, para poder atender a população nesse sistema”, critica.
Identificação de pares
Fátima também explica que, apesar dos agentes de saúde terem um amplo conhecimento sobre a AIDS, muitas vezes não conseguem falar a mesma linguagem do público que pretendem atingir. “Por isso, a identificação de pares é importante. "Uma pessoa que vive com HIV vai falar com um paciente numa linguagem e com um sentimento de quem vive aquela situação. A mesma coisa do adolescente trabalhar como multiplicador”, explica a enfermeira, destacando que a sociedade complementa o trabalho realizado pelo serviço público de saúde.
Sexo sem camisinha
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde, na última segunda-feira (21), apontam que 61% dos jovens entre 15 e 24 anos usam camisinha na primeira relação. O número cai para 50% nas relações sexuais com parceiros casuais. De acordo com a médica, em relações estáveis, o diálogo entre o casal é fundamental, uma vez que a decisão sobre usar ou não o preservativo deve ser um consenso entre ambos.
Doenças Sexualmente Transmissíveis
Ainda segundo Fátima, não é possível trabalhar a prevenção de HIV de forma isolada das demais DSTs. “Uma pessoa que contraiu sífilis, por exemplo, tem 18% de chance a mais de contrair HIV, caso tenha um comportamento de risco”, afirma. Nesse sentido, ela destaca que doenças como gonorréia, candidíase, sífilis e hepatites A, B e C não podem ser esquecidas e devem ser tratadas com seriedade pela população.