sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Morrer de amor
Estudo americano revela que quando um cônjuge morre, aumenta o risco de morte daquele que fica
PorIlana Ramos
15/09/2011
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Uma pesquisa publicada no New England Journal of Medicine chegou a um resultado intrigante: em pessoas com mais de 65 anos de idade, a hospitalização do cônjuge pode prejudicar o bem-estar do parceiro e significativamente contribuir para a sua morte, elevando esse risco em mais de 30%, em alguns casos. Será que o amor entre casais mais velhos pode ser de fato tão forte que a ausência de um contribua para a morte do outro?
O estudo, feito pela Universidade da Pensilvânia com mais de meio milhão de casais com 65 anos de idade ou mais, analisou a relação entre a doença de um e o risco de morte do outro. Os pesquisadores cruzaram dois efeitos conhecidos como "sobrecarga do cuidador" e "efeito da viuvez" e chegaram a resultados impressionantes. Doenças com alto índice de mortalidade, como câncer de pulmão, têm baixo impacto na mortalidade do parceiro. Por outro lado, demências e outras doenças psiquiátricas mostraram aumento substancial (de 19 a 32%) no risco de morte do parceiro.
Os pesquisadores concluíram que o período de maior risco é dentro de 30 dias após a hospitalização ou morte do cônjuge. Segundo dados da pesquisa, a morte da mulher aumenta em 53% o risco de o marido morrer no período de um mês após o fato. No caso da morte do marido, a chance de a mulher morrer aumenta em 61%. Os pesquisadores, após a conclusão, destacaram a importância do apoio social da família e de amigos para diminuir os riscos de morte do parceiro sobrevivente.
Os números da pesquisa impressionam até aqueles que estudam e entendem bem do assunto. Para o geriatra Tarso Mosci, "a pesquisa desperta nossa atenção acerca dos impactos negativos na saúde, qualidade de vida e sobrevida do idoso quando este se torna cuidador de seu parceiro, com repercussões danosas mesmo após a morte do mesmo. Quando um cônjuge adoece ou morre, seus familiares e cuidadores participam deste processo e a saúde destes poderá ser afetada de maneira adversa, na dependência da interação de múltiplos fatores (suporte social, recursos disponíveis, espiritualidade, etc.)".
O estresse que gira em torno da tarefa de cuidar de um familiar doente pode, sim, desencadear doenças que elevam o risco de morte do cuidador. Unindo-se a isso a afetividade do relacionamento marido-mulher, o risco de doenças como depressão também é elevado. "Cuidar é uma tarefa altamente complexa, que demanda tempo, recursos materiais/financeiros e que, especialmente no caso dos cuidadores familiares, pode ser grande fonte de estresse, sofrimento e depressão. O processo de adoecimento e morte representa um momento de grande vulnerabilidade física, financeira e, principalmente, emocional para o indivíduo sobrevivente, podendo afetar negativamente sua saúde e, inclusive, contribuir para sua morte", observa Tarso.
No entanto, embora os números de fato assustem, é conhecido dos especialistas o impacto que a doença de uma pessoa tem sobre os outros membros da família. Para a psicoterapeuta e coordenadora da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ-SP), Rosilene Souza Lima, "a morte de um cônjuge, especialmente se o casal for muito unido, deixa uma lacuna. O parceiro pode sofrer acessos emocionais e doenças, e até morrer mesmo. O cuidador constrói sua vida em cima da rotina da doença e deixa de cuidar de si próprio, da própria saúde. Não creio que o aumento da probabilidade de morte do parceiro tenha relação ao amor que sentia pelo outro, mas sim ao amor que deixava de sentir por si mesmo. O sentimento de tristeza pode levar a um abandono a si próprio. A pessoa se afunda no sentimento e pode morrer, pode adoecer a ponto de morrer".
http://www.maisde50.com.br/editoria_conteudo2.asp?conteudo_id=8444

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