segunda-feira, 19 de setembro de 2011

"Gosto de parecer mulher, mas adoro ser homem", diz Rogéria em estreia de monólogo musical no Rio

14/09/2011 - 09h56FABÍOLA ORTIZ Colaboração para o UOL, do Rio
  • Rogéria, nome artístico de Astolfo Barroso Pinto, estreia monólogo musical (setembro/2011)
    Rogéria, nome artístico de Astolfo Barroso Pinto, estreia monólogo musical (setembro/2011)
Aos 68 anos de idade e prestes a completar 50 anos de carreira, o transformista Rogéria se define como um grande ator. “As pessoas acham que sou transexual, que estou operada, mas eu digo que não tenho cabeça de mulher, sou homem e não estou nada operada. Nunca tive pretensões de ser mulher, eu gosto de passar por mulher. Eu adoro ser homem, adoro ser Astolfo Barroso Pinto, pinto eu ainda tenho. No fundo é um trabalho de ator, isso é muito gostoso para mim”, contou ao UOL Rogéria ainda no camarim, antes da estreia do monólogo “Rogéria e os Astolfos”, no Rio de Janeiro, na noite desta terça-feira (13).
O espetáculo é um musical, em que o transformista, ex-vedete e ex-maquiadora de TV, alterna números musicais em português, inglês e francês com confissões sobre a infância, o despertar de sua carreira profissional, o sexo e a transexualidade. No palco, o transformista é acompanhado por um grupo de músicos, “Os Astolfos” (Rodrigo Revellis no sax, Paulo Proença na percussão e Otávio Santos no teclado e direção musical). 
Sem pudor, Rogéria improvisa no palco. "O babado era saber que eu era homem, se não, não tinha graça. Gosto de parecer mulher, mas prefiro ser homem mesmo”, diz num tom descontraído e bastante humorado. “Eu não sofri porra nenhuma. As pessoas perguntavam se eu tinha sofrido, não sofri nada. A minha mãe nunca teve vergonha de mim. Eu era bem viadinho e ela disse ‘você já era um artista’. Ai como eu pintava o sete”.

"Artista não tem sexo, como diria Fernanda Montenegro"; assista à entrevista

‘Sem o salto nada acontece’

O espetáculo, explica Rogéria antes de subir ao palco, é a “minha vida contada e recontada, o meu stage o meu palco. Quero que o público venha se divertir comigo”. Para o artista, sem o salto nada acontece. “Não posso mais descer do salto. Depois que virei Rogéria, tenho que respeitar meu público. Na rua, o povo quer falar comigo”, comenta.

O despertar da sua carreira foi em um concurso de fantasias no Teatro República, em 1964. “Eu era maquiador e fiz um teste, ganhei o concurso de Carnaval e estreei no dia 29 de maio daquele ano”, conta. Mas um dos causos que lhe marcou o seu início, foi quando Astolfo, como maquiador da extinta TV Rio, ouviu de Fernanda Montenegro o veredito que a levaria a abraçar de vez a carreira artística. “Um dia eu disse a Fernanda Montenegro que queria tanto fazer teatro, mas não vestido de homem. E ela me disse: arte independe de sexo, você precisa de talento e vocação. Eu fui seguindo o caminho dela e hoje estou por aí fazendo quase 50 anos de carreira, mas consciente de que sou Astolfo”, disse Rogéria.
Nunca sofri bullying, eu era terrível, geminiana, eu é que dava porrada, nunca recebi. A maior coisa na minha vida era a minha mãe. Ela nunca teve vergonha de Astolfo Rogéria, isso era fantástico. E se alguém tentasse fazer alguma coisa contra mim as unhas eram verdadeiras
Rogéria, sobre sofrer com o preconceito
Loucuras

Uma de suas maiores loucuras, diz Rogéria, foi fazer sexo dentro de um avião, inspirada em uma cena do filme erótico francês ‘Emanuelle’, da década de 70. “Eu vi o filme Emanuelle, aquela cena de sexo dentro do avião, eu fiz num avião da Japan Airlines. Encontrei um cara que não sabia que eu era homem, eu estava vindo do Cairo e ele ia saltar na Itália e ele saiu sem saber e tudo passou em branco. Foi uma grande jogada de mulher fatal”, lembrou.

Um dos 'causos' que Rogéria conta no palco é sobre o seu cabelo - que, aliás, é verdadeiro, assim como as unhas, garante. “Cabelo, ou você tem ou não tem. Eu alisava o cabelo e ainda queria que fosse loiro. Já fiz loucuras com o cabelo. Um dia fui a um baile de Carnaval e queria uma cor diferente mas não entendia nada de pintura. Peguei mercúrio cromo e passei no cabelo, no dia seguinte tive que raspar. Já passei ate água sanitária”.

Mas Rogéria conta que descobriu o seu cabelo mesmo em Paris e deixou de usar peruca. “As pessoas gostam muito de perguntar: como é que ficou esse cabelo assim? No Brasil, eu usava peruca, só fui descobrir o cabelo em Paris porque lá o clima é seco. Aqui é úmido e frisava, eu ficava com medo e alisava. Em Paris, ele cresceu. Aliás, cabelo e unha são meus, naturais”.

‘Minha mãe nunca teve vergonha’

Num balanço de quase cinco décadas de carreira artística, Rogéria diz que agradece primeiro aos seus santos protetores e presta homenagem à sua mãe Eloá Barroso. “Realmente não tenho culpa nenhuma, nunca sofri bullying, eu era terrível, geminiana, eu é que dava porrada, nunca recebi. A maior coisa na minha vida era a minha mãe. Ela nunca teve vergonha de 'Astolfo Rogéria', isso era fantástico. E se alguém tentasse fazer alguma coisa contra mim as unhas eram verdadeiras”, brincou.

No roteiro do espetáculo, Rogéria interpreta canções como “Se todos fossem iguais a você”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, escolhida para fazer a abertura, assim como “La vie em rose” e “Je ne regrette rien”.
O espetáculo fica em cartaz até dia 26 de outubro no Rio de Janeiro e a expectativa da produção é prorrogar até final do ano no Rio e depois seguir para São Paulo e outras capitais brasileiras, especialmente no Sul. Rogéria diz que se cansou da Europa e quer investir no Brasil e na Argentina. “Amo São Paulo, amo o Brasil, quero ir a tudo quanto é lugar, não quero mais saber de Europa nem América. Minha meta agora é Buenos Aires que ainda não conheço, dizem que é belíssima”.

 “ROGÉRIA E OS ASTOLFOS”
Onde: Teatro Clara Nunes (Rua Marquês de São Vicente, 52 – 3º piso do Shopping da Gávea)
Quando: Terças e quartas, às 20h (até 26 de outubro)
Quanto: R$ 40 / R$ 20 (meia entrada para idosos e estudantes)

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