sábado, 23 de julho de 2011

Genérico é mais caro que remédio de marca

domingo, 3 de julho de 2011 7:52
Genérico é mais caro que remédio de marca
Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC

Quem acredita que os medicamentos genéricos são mais baratos está enganado. A equipe do Diário encontrou em farmácias da região remédios com preços até 165% superiores em relação ao medicamento de referência, quando deveriam custar, por lei (9.787, de fevereiro de 1999), no mínimo 35% menos (veja quadro).
O fato foi comprovado com três princípios ativos de uma lista de dez que a reportagem saiu para pesquisar nas farmácias das cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Além da surpresa da equipe com o resultado, até os balconistas dos estabelecimentos não acreditavam no que viam nas telas dos computadores.
"Como isso pode acontecer? Nossa, então tem cliente que está pagando muito mais", disse a atendente de uma drogaria no Centro de São André.
As maiores diferenças ficaram entre os anti-inflamatórios Prazol, que é o de referência, com o genérico Lansoprazol. O primeiro custa R$ 23,39 e o segundo, R$ 62,12. Ambos são produzidos pelo laboratório Medley.
Outro remédio com preços distintos foi o antibiótico Zitromax, 500 mg, com três comprimidos, da Pfizer, por R$ 17,40, e o genérico Azitromicina - R$ 28,90. A diferença foi de exatos 66%.
Segundo o Procon de Santo André, os consumidores precisam ficar atentos na hora da compra para não ter prejuízos.
"É necessário ficar atento na hora de comprar, e perguntar o preço tanto do medicamento genérico quanto do principal (de referência)", disse a advogada Ana Paula Sfatcheki, diretora do órgão de defesa do consumidor.
Em São Bernardo, no bairro Rudge Ramos, é possível gastar R$ 27,43 a mais para comprar o antiobiótico genérico Amoxicilina + Clavulanato de potássio, de 875 miligramas, em vez do Clavulin, que custa R$ 93,43.
PESQUISA FUNDAMENTAL
O alerta do Procon ainda é muito necessário para a população em geral. Poucas pessoas com as quais a equipe do Diário conversou disseram que perguntam o preço dos medicamentos genéricos na hora da compra.
A pesquisa é fundamental para economizar. Os remédios têm preços distintos em quase todas as farmácias consultadas. Até entre os próprios medicamentos similares.
"O que faço é pedir desconto para os balconistas. Mas sempre acredito que o genérico é mais barato", disse o autônomo Roberto Martins, 39 anos. Avisado pela reportagem sobre as diferenças que pode encontrar, foi taxativo: "Rapaz, daqui para frente vou perguntar e anotar tudo. Porque não está fácil ganhar dinheiro."


Associação fala em política dos laboratórios
Para a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos, a Pró-Genéricos, a diferença constatada pela reportagem do Diário nas farmácias da região é devida a uma política de vendas dos medicamentos de referência adotada pelos laboratórios fabricantes.
"Com a chegada dos genéricos houve uma queda nas vendas dos remédios de marca. Por isso, atualmente alguns laboratórios fizeram uma operação de vendas agressiva, devido à perda de mercado", avaliou Luciano Lobo, coordenador técnico da entidade.
Para ele, os consumidores devem ficar atentos aos preços, e repete o alerta do Procon de Santo André: é preciso pesquisar antes de realizar a compra. "O genérico deve ser, no mínimo, por lei, 35% mais barato, mas na realidade o desconto na prática chega a 50%. A função maior da quebra das patentes é o aumento da competição e ampliação do acesso aos medicamentos por parte da população", comentou o coordenador da entidade.
Segundo dados da associação, os medicamentos genéricos já representam 25% dos remédios comercializados no País. As vendas movimentam US$ 6 bilhões por ano. Outro dado importante levantado pelo coordenador é como os laboratórios conseguiram chegar nesse preço baixo.
A Pró-Genéricos é uma entidade que representa as 12 maiores indústrias da produção de medicamentos do Brasil, entre as quais estão a EMS, Eurofarma, Medley, Merck e Biosintética. Elas representam 90% da produção do País. No total existem cerca de 100 empresas.
Sobre as críticas de especialistas e da população em relação à qualidade dos remédios genéricos a entidade sai em defesa dos associados. "Isso é um mito. A eficácia terapêutica é provada junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)", disse o coordenador. "Caso o paciente não consiga o resultado esperado, deve procurar a polícia e a Anvisa."


Lei foi criada no governo Fernando Henrique
A lei dos genéricos, a 9.787, foi sancionada no dia 10 fevereiro de 1999 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. A proposta do governo federal era ampliar o acesso aos medicamentos para a população, além de reduzir os preços.
Nesses últimos 12 anos, já foram inclusos no mercado brasileiro mais de 3.130 medicamentos, segundo dados da Pró-Genéricos. Em 2000, esse número era de 138 remédios. Cinco anos depois passou para 1.582.
O remédio genérico é produzido após a expiração ou renúncia da proteção da patente. No ano passado, uma das quebras mais esperadas pela indústria foi a do Viagra, remédio para disfunção erétil. O preço caiu em mais de 50% , na primeira semana.
Por lei, o valor do genérico tem que ser 35% menor do que o preço do medicamento de referência registrado no Ministério da Saúde.
http://www.dgabc.com.br/News/5897007/generico-e-mais-caroque-remedio-de-marca.aspx

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